03/12/2010

Um tempinho

Subi ao sonho como à montanha.


Do cimo do sonho a paisagem é quase sempre mais desafogada e mais etérea, como na gávea de uma caravela. As nuvens tocam-se com os dedos e a alma cola-se ao céu como uma estrela-do-mar.


Do alto da serrania avisto o oceano ou a ilusão dele no horizonte. Não diviso as ondas nem a praia de areia espelhada, mas adivinho a escuma que emerge e sucumbe nas margens do olhar. Era capaz de jurar que todo aquele branco é de neve e que a brisa que corre é de natal, só porque é dezembro.


As falésias de outrora volvem-se sombras de campo. Quimeras.


Desço agora pelo acordar do sonho à montanha, atravesso o fim de tarde. Um geodésico vale com renas à solta e no sopé um trenó ao abandono. É o que resta de um pontinho no tempo.


Um tempinho de luz.

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