29/01/2010

Sonhos sobrantes

A vida bem pode ser isto mesmo: espaço entre nada e nada, uma caminhada, breve ou longa, em simulacro. Uma estrada cujo início desconhecemos, por não termos memória capaz, uma estrada cuja curva não evitamos por não a divisarmos. O poeta sabia disto como poucos, e afirmou-o, tendo nele apenas todos os sonhos do mundo.
E embora a gente não acredite nas palavras, ou faça por não acreditar totalmente nelas, acaba por admitir um bocadinho, às escondidas, que alguma verdade há-de haver em haver mistério.


Os passos que palmilho pela
fímbria da praia
por entre gestos inusitados que
me desvelam os segredos
apagam-se breves e
mudos

os anseios que alindo pela
fúria das águas
por entre vagas quiméricas que
me ateiam a sede
somem-se doídos e
mansos

os caminhos que cruzo e
sei
nunca me trazem de volta nem
nada


Se ao menos sobrassem os sonhos…

1 comentário:

Armindo S. disse...

Mensagem plena de sentidos, tecida nos interstícios da vida, e interrogada pela incerteza do mistério e como ele de uma beleza contagiante.