Graças às novas tecnologias, já é possível reunir todas as formas de comunicação num simples dispositivo de bolso. Na palma da nossa mão juntamos a voz e o texto, o Messenger e o Gtalk, o mail e a internet… tantas formas de ouvir o silêncio…
Quando chegou, encontrou a casa vazia. Isso já era normal, a casa estava vazia desde que ela partira. Não, isto não é inteiramente verdade: a casa estava vazia muito antes disso, estivera vazia desde que ela deixara de lá estar, embora continuasse a habitá-la. Mas agora a situação resolvera-se, e ela habitava outra casa qualquer, pouco interessava qual, nada interessava onde. Depois de tantos anos em vão, a casa estava finalmente vazia.
Melhor assim, pensou, antes esta verdade de uma casa efectivamente vazia, do que viver a ficção de uma família que não existia já, de uma relação que há tanto tempo deixara de o ser, isso se alguma vez tivesse chegado a sê-lo. Pela força do hábito, consultou o ecrã do telemóvel, que não tinha mensagens. Com um encolher de ombros, tirou do frigorífico uma refeição já preparada.
O telemóvel andava com manias nestes últimos dias, e esquecia-se de verificar o mail, talvez fosse melhor forçar a ligação. Fê-lo mecanicamente, sem saber que correio esperava receber, ou quem de resto lhe escreveria, e não constituiu grande surpresa que nada viesse em retorno. Não deixou todavia de consultar amiúde o diminuto ecrã enquanto comia o que quer que fosse que retirara do frigorífico, nem sabia bem o quê. Não que isso importasse realmente.
A casa estava realmente vazia, oca de gente e espíritos. Mesmo o fantasma que um dia fantasiara por entre aquelas paredes tinha partido para outras paragens, deixando apenas uma vaga saudade da sua não-existência. Disparate, pensou, um fantasma não é companhia, e de resto os fantasmas não existem. Consultou de novo o telemóvel, sem que qualquer novidade lhe viesse alterar a existência.
Num desespero de vazio enviou umas quantas mensagens escolhidas, bem como um ou dois mails. Nada de muito óbvio, nada que explicitamente convocasse uma resposta que estava ciente que não viria. Publicou ainda um post recôndito, e permitiu-se fingir que não estava à espera de nenhum comentário. Verificou novamente o telemóvel antes de se deitar. Como sempre, nada!
O fantasma que um dia habitara a sua casa apareceu nessa noite, mas vinha apenas buscar algumas coisas que deixara esquecidas, e não se demorou.
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3 comentários:
O fantasma da casa nova que se mudou para uma outra qualquer nova morada, quando aquela já não tinha história... Há que buscar novas histórias para que apareçam novos fantasmas.
Eu própria me sinto um fantasma que volta quando há histórias novas (o que vale é que vão surgindo). Apareço brevemente, a maior parte das vezes sem deixar rasto...
Muito bem escrito!
Um abraço
Muito interessante!
Fez-me lembrar a escrita de Pedro Paixão!
Espero que entenda isto como um elogio... porque o é!
Adorei, CONTO CONTIGO!Muito bem relatada ,esta história de "fantasmas"...E pensar que há quem acredite...
Em PORTUGAL, costumamos dizer como os espanhois" eu não acredito em bruxas...mas que as há...isso há!"
Beijo amigo de
LUSIBERO
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