12/07/2011

AQUI HÁ GATO

Que são todos pardos, é o que se diz popularmente dos gatos quando vagabundeiam pela noite espessa.

Nunca percebi porque hão-de ser ou parecer pardos, eu que tanta vez trouxe da loja rebuçados e amêndoas de meio tostão aconchegados num cartucho de papel que tinha este nome, papel pardo, e nunca achei que os meus gatos ou quaisquer outros da vadiagem conseguissem esta tonalidade quando a custo os distinguia na escuridão.

Já agora, e para que conste, era neste papel que a minha mãe escorria os bilharacos, as filhós e as rabanadas em raras e diletas ocasiões de festa, e o papel, no fim, quando o atirávamos para a fogueira, ia pardo ainda e luzidio, de um pardo que se continuava vendo, porque a luz o deixava ver, e não porque tivesse o condão de se lobrigar nas trevas. E como ardia!

Bem sei que este mito com gatos à mistura é só para disfarçar, que são outros os seres, o povo não é parvo, e estes é que são pardacentos e esquivos e não deixam rasto dos infortúnios que causam. De noite como de dia. Gente felina que dá mau nome aos gatos que, a qualquer hora, pardos ou às riscas, nunca são cinzentos.

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