O verão produz milagres. Isto porque é verão, e só por isso, porque todas as estações são boas para maravilhar.
A primavera, porque tem a mania de florir tudo quanto desabrocha e faz bem à visão das manhãs rociadas.
O outono, porque tem a constância das folhas tombando do céu à medida que amarelecem na memória das tardes.
O inverno, porque tem o assombro dos cristais imaculados que agasalham a alma quando ela adormece de costas para a vida.
Mas o verão, agora que é verão, faz prodígios. Fá-los porque tem nos dias longos os braços estendidos e o amor na ponta dos dedos. Fá-los porque tem nas noites luzentes as brancas noites do fogo derramando-se pela madrugada dos corpos.
No campo, na montanha ou nos poros da areia escaldante, o verão consente que os corações se desprendam de maduros e inventem a sesta sequiosa. E sob os ramos de sombra lhe diz “deixemo-nos entrar”.
O conto pode começar, assim, entre assomos cavos e falos no limiar da estação segunda.
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