22/04/2009

Sei Que Não Vens...

Sei que não vens, de qualquer forma resolvi preparar-me como se viesses. Assim, ainda que seja totalmente disparatado, sinto-me mais perto de ti. Tomo um duche prolongado, relaxante. Faço depilação integral. Sei que gostas de a sentir lisa e macia. Quero estar perfeita. Por fim saio da banheira, vou até ao quarto. Deito-me sobre a cama. Tenho a pele um pouco seca (é do frio). Sabes como detesto cremes mas vale a pena o esforço. Aplico creme no corpo para ficar com a pele mais macia. Quero agradar-te ainda que saiba que não vais saber que o fiz. Ponho aquele perfume. Observo-me ao espelho; estou gorda! Paciência, não posso fazer nada, pelo menos não hoje. Sei que não te importas mas gostaria de ser mais magra, gostava de ter um corpo, com curvas, mas de músculo e não de celulite. Dentro do possível, não está mal. Há uma coisa que não está bem: o cabelo. Não posso deixar secar o cabelo naturalmente porque vai ficar todo desalinhado. Volto para a casa de banho e seco o cabelo cuidadosamente; ondulado atrás e esticado à frente. Regresso ao quarto e ao espelho. Sim, agora estou preparada para ti, para te receber, para te dar tudo de mim. Sim, sei que não vens. Sei que é parvoíce porque tu nem vais saber que me arranjei para ti. Nem é concebível. Ainda assim, faço-o consciente de que é irracional mas na certeza que estou mais contigo, que faço amor contigo ainda que não o saibas. Ou será que sabes…?
Ai como te amo! Como gosto de te mimar de te fazer feliz. Aí reside a minha maior felicidade, na constatação de que te faço feliz. Aí tudo vale a pena. Toda a dor é recompensada. Todas as lágrimas evaporam pelo calor do teu sorriso. Tu fazes-me tão feliz! Consegues despoletar as minhas gargalhadas como ninguém. Eu rio e rio e esqueço que nem sempre há motivos para rir. Nesses momentos parece que nada nem ninguém pode interferir connosco, com as nossas gargalhadas, com a nossa felicidade. É tão maravilhoso partilhar contigo! Partilhar gargalhadas, sorrisos, beijos, pele, corpo. Partilhar as vitórias, as descobertas, um jogo de futebol, um café, uma paisagem, uma cama, uma cerveja, uma banheira, uma anedota parva, uma fantasia, um livro, uma viagem, uma memória, uma vida!
Esta é agora a minha forma de partilhar contigo.
Após passar algumas horas neste solitário convívio contigo, decidi vestir aquele vestido beige e bordoux, que adoras e ir ao teu encontro. De caminho, apanho um ramo de madressilva.
Subo a colina, passo o grande portão verde e dirijo-me àquela pedra branca e fria, que cobre agora esse corpo que conheço tão bem como o meu próprio. Pouso o ramo de madressilva, fecho os olhos e sinto o calor do teu sorriso.

4 comentários:

Rosa Matilde disse...

É uma forma de dizer que, partilhamos todos a mesma matéria sísifica.
O que me pareceia ser nada, silencioso, transformou-se num ruído inquietante.
Well done!
Rosa

Adriano disse...

Meu Deus!
Como gostaria eu de saber ser tão breve, tão intenso e tão sincero!
Não vai longa a noite, mas fica desde já marcada.
Obrigado,
Adriano

Margarida Tomaz disse...

Fluido, límpido, tocante, bonito!

"Viver para contá-la" escrever para recordá-la.

Gostei muito.

apsarasamadhi disse...

toda a escrita que subleve o espírito a manifestar-se na carne (em forma de arrepio ou tremor) é, em si e por si, absoluta! Os meus sinceros parabéns.