17/08/2009

O Medo do Esquecimento

O sol pousava já sobre a praia deserta. Não que fosse particularmente frequentada por multidões, durante o dia, mas àquela hora estava sem vivalma.
Restava apenas eu, no cimo da duna, contempla-la. Lembrava outras horas passadas naquela praia e nas redondezas. Haviam sido umas férias maravilhosas, que estavam guardadas de forma indelével na sua memória. Seria assim? Seriam as memórias inesquecíveis? Ainda que se tratem de momentos muito marcantes, não se correrá o risco de essas imagens nos fugirem?
Sim, esse é um dos meus grandes medos. O medo de me esquecer dos momentos mais preciosos que vivi. São os meus pequenos tesouros, aquilo que tenho de mais único na vida.
Por essa razão revejo, revivo intensamente os momentos que vivi e que não quero, de forma alguma, olvidar.
Alguns vêem-no como uma forma de saudosismo; não é. Não pretendo voltar a viver o que vivi, nunca teria a mesma magia. Só não quero perder o que vivi.
Vejo a minha vida como uma colecção de cromos que vou juntando meticulosamente. Cada local, cada momento, cada pessoa, cada emoção especial, constitui um cromo que vou colando na minha caderneta.
Se, por qualquer razão a perder, perco o meu tesouro, a construção da minha identidade - que pânico!
O sol já mergulhou completamente naquele oceano. Levanto-me feliz por ter revivido aqueles momentos, lutando para que se tornem inesquecíveis para mim...

2 comentários:

Nuno Baptista Coelho disse...

É isso mesmo, nós somos os momentos que vivemos, esses momentos são o que nos compõe - a comparação com uma caderneta é brilhante. E ao longo da vida, como qualquer colecção, vamos ficando mais completos.

Esses cromos não se perdem até ao dia em que nos perdermos a nós: podemos sempre escolher alguns para pôr na vitrine, relegar outros para os álbuns do fundo da gaveta - mas estão todos lá, à espera de serem folheados com vagar, um dia à beira-mar.

E é bom vires lembrar-nos isso, de vez em quando.

Rosa Matilde disse...

Ele há tantas formas de “perder” a memória… até mesmo aquelas que nos são (foram) caras. Perder a memória, é destruir algo único de cada um de nós. Ela é a nossa história que, perante a inevitabilidade, há-de contudo permanecer para a construção da existência. Sem elas, não somos muito mais, antes, somos, apenas somos… nestes contexto Guiomar, já nos influenciaste e isso é difícil de esquecer.