02/01/2009

- É urgente a mudança.
Se não mudo, entro numa espiral que me irá levar à loucura.
A última que me aconteceu, então…

Ia carregado com duas malas cheias de livros e outros materiais, que necessitava de deixar em casa, antes de me encontrar com a Daniela, uma colega e amiga da faculdade, para ir ao cinema. Tínhamos combinado, logo de manhã, a sessão do início da tarde.
Ao chegar à porta do prédio onde morava com os meus pais e o irmão mais velho, reparei que me tinha esquecido da chave em casa. Devo ter puxado a porta, pois o meu irmão costuma levantar-se ainda mais cedo para ir trabalhar. Os meus pais estavam de viagem em Cabo Verde gozando a sua merecida reforma.
Por ser terça-feira, não encontraria a Vera em casa fazendo as limpezas. Ela só voltaria no dia seguinte.
Como alternativa última, restava-me a humilhação de passar pela empresa onde o meu irmão trabalha e pedir-lhe a sua chave, pois não queria ir carregado para o cinema.
Ainda tinha tempo, por isso, atravessei meia cidade carregado com aquela tralha toda e lá fui ouvir, o mano certinho, chamar-me cabeça de abóbora, em frente dos seus colegas. E ainda tive de lhe prometer que deixava a chave na caixa do correio para ele poder entrar, uma vez que quando chegasse a casa, era mais que provável, o filme ainda não ter terminado. Assistir ao enxovalho, enquanto sorridente ele ia retirando a chave do correio do molho que me entregou, foi pena leve.
Atravessar outra vez metade da grande cidade arrastando como Sísifo aquele carrego.Aaté que finalmente a porta do prédio à vista. O tempo já era escasso.
Felizmente que as caixas do correio ficavam logo à entrada do prédio.
Ele tinha sido tão veemente, que não me saíam do pensamento as suas derradeiras palavras:
- E não te esqueças de me deixar as chaves na caixa do correio, senão, nem sei o que te faço.
Não resisti em fazer-lhe a vontade. Mal cheguei à entrada do prédio ocorreu-me a brilhante ideia:
Antes de mais nada, deixar as chaves na caixa do correio.

5 comentários:

Adriano disse...

Puxa! Ainda não repondi ao sonho e zás! Aí está a mudança. Tudo bem, quem me dera|
Adriano.

PS.: Revia umas vírgulas e o final está de riso sincero.

Margarida Tomaz disse...

A arte de contar vai em crescendo!...

É o que se chama uma mano sempre nas nuvens!... A seguir deve ter atravessado de novo a cidade, até aos bombeiros...

Guiomar Fernandes disse...

Parabéns Armindo! Antes de mais, por seres o único "em dia". Conheço várias pessoas capazes de fazer isto mesmo, a cabeça d abóbora normalmente acaba por carregar a culpa danada, o que provoca alguns pesadelos.
Força! Continua a manter esse ritmo.

Adriano disse...

Subscrevo o que diz a Dulce. Estar em dia com os desafios não é para todos. E a culpa, de facto,incomoda. Tsnto é estímulo quanto entrave.
Força aí, Armindo. E força aqui, todos nós.
Adriano

apsarasamadhi disse...

Final hilário que, entre os afazeres cinéfilos e o estro sisifiano, o único que poderia irromper de tão fértil imaginação!